Boite: Moonrise Kingdom

Neste mês comecei a participar do portal Boite du Film, do meu amigo, também cinéfilo e cineasta, Matheus! Semanalmente irei escrever sobre os filmes lançados nas locadoras, na coluna “Chegou”.  No Boite há espaço para os lançamentos do cinema, curtas-metragens, musicais, diretores,  séries de TV, HQs… enfim, tudo o que envolve o universo cinematográfico — pelo qual a gente é apaixonado! –, em críticas muito bem escritas.

Vou reproduzir minhas resenhas aqui, mas não deixem de visitar o site! :)

Ready, set, go!

Hoje é dia de:

Moonrise Kingdom

O longa não recebeu a atenção merecida em seu lançamento nos cinemas, nem pelo público, nem pela crítica. Conquistou apenas uma indicação no Oscar – de Melhor Roteiro Original –, em compensação liderou com cinco categorias no Spirit Awards — a maior premiação americana ao cinema independente — e foi abertura do Festival de Cannes no ano passado.

Não dá mesmo para entender como “Moonrise Kingdom” pôde ser deixado de lado na maior premiação americana. Ele possui todos os elementos que fazem de um filme uma obra de arte: roteiro inteligente e autêntico (de Wes Anderson e Roman Coppola), trilha sonora encantadora, fotografia e arte impecáveis e um elenco de fazer cair o queixo.

No que diz respeito à trilha, sua construção foi inspirada nas composições de Benjamin Britten — conhecido por obras infantis – e, ainda, traz uma mistura de músicas americanas, francesa, alemã, indo do country à instrumental clássica. Logo na primeira sequência nos é apresentado o tema principal, onírico e delicado, “The Heroic Weather-Conditions of the Universe” (de Alexandre Desplat), composto por diversos instrumentos, que nos são descritos simultaneamente através de uma narração. Fantástico.

Acompanhada pelo arranjo instrumental, o que nos chama maior atenção é a fotografia, composta por travellings, que nos levam de um lado a outro na casa da protagonista (Suzy), como se esse ambiente fosse também um personagem, o qual contemplamos através de movimentos suaves. Elementos que também se destacam na foto é o tom amarelado remetendo a algo nostálgico e bucólico. Além disso a composição dos planos é minuciosa e pensada em toda a sua profundidade de campo, fazendo, assim, combinações de ações dos personagens em 1o, 2o e último plano. Muitas vezes a concepção nos lembra quadros surrealistas de Magritte, principalmente nos que estão a personagem Suzy observando através de seus binóculos. Esse objeto, aliás, acaba caracterizando o olhar dela, por exemplo, nos planos subjetivos – do seu próprio ponto de vista –, pois prontamente identificamos quem está olhando através do apetrecho.

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Toda a estética do filme  é estilizada e coerente com outros filmes do diretor Wes Anderson, “Os Excêntricos Tenenbaums” (2001), “Viagem a Darjeeling” (2007) e “Fantástico Sr. Raposo” (2009). Fora esses, poderia citar vários longas que se assemelham à “Moonrise Kingdom”, desta vez do ponto de vista temático, todos eles

muito bem construídos: “Guerra dos Botões” (1962), “Idade da Inocência” (1976), “Vermelho como o Céu” (2006), “Onde Vivem os Monstros” (2009) e “Infância Clandestina” (2011).

Eles, assim como “Moonrise Kingdom”, são representados através do olhar infantil, mas ao invés de serem simplesmente filmes para crianças, tratam de aspectos profundos que envolvem a inocência, a imaginação e o amadurecimento que surte através das necessidades e dificuldades encontradas nessa fase. Por isso costuma-se dizer que “Moonrise Kingdom” é, de fato, um filme sobre crianças feito para adultos.

O longa, ambientado na década de 60 em uma ilha na Nova Inglaterra, gira em torno de um casal de crianças de 12 anos. Ele, Sam Shakusky (Jared Gilman), um escoteiro órfão e revoltado. Ela, Suzy Bishop (Kara Hayward), filha primogênita e excêntrica de uma casal em crise (Bill Murray e Frances McDormand). Ambos revoltados com suas situações, apaixonam-se e resolvem fugir juntos.

Dizer que esse filme se trata meramente de uma comédia romântica pode soar um tanto reducionista, pois geralmente esse gênero está ligado a filmes não muito profundos. Por isso, mais do que uma comédia romântica, o longa pode ser considerado um drama que aborda os conflitos internos dos pré-adolescentes — construídos de forma complexa — e, apesar disso, ao mesmo tempo transparece uma leveza e sinceridade que seduzem o espectador.

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Como não poderia deixar de ser, o filme carrega uma atmosfera vintage bastante cativante em sua direção de arte, hipster feelings! Por se passar no ano de 1965, a protagonista, Suzy, possui um figurino à la Twiggy – vestidos delicados, porém curtos, com certa rebeldia, ou casaco sobretudo e boina –, o que se estende também à maquiagem, forte e colorida, com os olhos bem marcados. Ao passo que Sam, ao longo de tudo o filme usa sua roupa de escoteiro e seu objeto característico: o chapéu de guaxinim, ícone nos anos 60, por causa do personagem Davy Crockett, um herói nacionalista da série “Disneyland”, popular entre as crianças. Na composição, tanto dos cenários quanto dos figurinos, há sempre um elemento amarelo na plano, o que conecta uma imagem à outra do filme, dando a ele uma unidade estética.

No que diz respeito às interpretações, todo o elenco (que ainda inclui Bruce Willis (!) e Edward Norton) agregou ao filme o peso e sensibilidade necessários. Em equilíbrio com toda a obra.

Sinestésico, poético, engraçado, puro, emotivo, hipnotizante, “Moonrise Kingdom” é capaz de nos causar sensações diversas. Resumindo, não ouse deixar de ver! :)

Vitória

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